28 outubro 2009

Rebatendo (só um pouco) Vargas Llosa

On line, na revista Piauí, um belo e longo texto de Vargas Llosa em defesa da literatura dá o que pensar. Mas pensar sobre literatura é uma faca de vários legumes. Milhares de escritores, mesmo os considerados grandes escritores, fazem da literatura uma atividade simplesmente sombria. Não tenho mais a convicção de que a literatura seja a luz no fim do túnel, o túnel escuro da estupidez humana (sic). Nem que espalhe sequer algumas lâmpadas, mesmo que sejam essas lampadinhas vagabundas de natal, piscando com seus 25 watts de euforia natalina pelas paredes desse mesmo túnel. Em suma, não acredito mais que a literatura ilumine os desprovidos de luz ou de lanternas.

Frente ao irrefutável argumento de Vargas Llosa de que a literatura promove, protege e dinamiza a linguagem humana posso contrapor, como um advogado do diabo, o fato de que a literatura também é a indústria metafísica da angústia. A maioria dos autores citados carinhosa e saudosamente por Llosa - grandes autores de quem, aparentemente, é preciso ter saudades - são exímios tecelões de uma rede de nós cegos, iguais entre si pela qualidade comum de provocar angústia.

Não sentir essa angústia e continuar pulando alegremente de um inferno pro outro é algo que me faz duvidar da capacidade cognitiva de qualquer leitor - o que, por si só, contradiz a tese de que o exercício da leitura amplia a percepção geral do homem. A noção do abismo deveria ser natural mas uma enorme parte da literatura fomenta o salto suicida, sem para quedas. Por outro lado, perceber a angústia e gostar dela a ponto de usá-la como travesseiro é um negócio bizarro demais, pra não dizer doentio.

"O diabo na rua (leia-se: no mundo), no meio do redimunho (leia-se: literatura)", está rindo discretamente.

22 outubro 2009

Velhas senhoras

Tempo de esquecer as velhas. Também já era tempo. Elas estão no mesmo lugar de sempre e acenam para mim com os braços magros. Alguns gordos.Essas velhas cairão no olvido, palavra irônica para quem não quer mais escutar seus sussurros. São as esperanças, as promessas, algumas amizades, muitas lembranças. É tempo de esquecer essas velhas senhoras tristes.