25 abril 2006

Banheiros

O templo sagrado da humildade é o banheiro. Estamos ali a sós, percebendo a fragilidade da carne, olhando o espelho que nos confronta com um outro ser que nos olha, pasmo, atras do vidro e nos mostra a realidade de uma anatomia que sente, mais do que supunhamos, a passagem do tempo. Ali permanecemos às vezes quietos e pelas paredes, em silêncio, reverberam memórias, alguns sonhos, uma gôta de água estala musicalmente em algum canto e acordamos de repente no meio de uma função qualquer, mas extremamente física. Ali testamos, meio sem graça, algumas posturas a serem talvez usadas a posteriori, mas não, não funcionou. Ali descobrimos recantos do corpo ainda não mapeados, testamos as juntas, joelhos, juventudes idas, nos tocamos como desconhecidos e em silêncio, até que a água de um chuveiro nos absolva e, talvez, cantemos alegres porque sentimos, estamos vivos. Acredito piamente que a água de uma pia é um bálsamo e que o brilho nos ladrilhos, latrinas e canos dissipam o engano, humano engano. Todos aqueles que saem de um banheiro são, em proporção direta com o tempo em que lá estiveram, seres humanos melhores, ainda que mínimamente, do que quando entraram.

Um comentário:

  1. Suas reflexões sobre o banheiro são extremamente pertinentes e verdadeiras. Acho que grande parte das pessoas saem melhor do banheiro, a não ser quando se esquecem de limpar a bunda direito, depois de um piriri. Só no banheiro somos nós, nós sem máscaras , sem vergonhas, reconhecendo o corpo e olhando desolados o espelho, outras vezes, admiradosde como ainda somos belos, apesar da juventude perdida em algum lugar. Somos capazes de fazer coisas, pensar
    coisas que jamais pensaríamos em outro lugar. É o altar sagrado dos mortais! BJs. Adorei!

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