20 julho 2006

Empregadas mortas

Rapaz, rapaz.. dia virá, quando as empregadas mortas se encontrarem atras da porta, sussurrando sobre os ladrilhos da cozinha: que não eram ninguém e que ninguém as ouve. O menino, que uma das babás recorda agora, com os olhos fixos no interior da casa, esse homem quase grisalho que já foi sua criança, seu pequeno, indefeso peralta, passa por ela sem atinar que o movimento súbito do vento na porta da cozinha se deve ao deslizar continuo do espectro que anda junto às paredes e se reflete, com um cintilar estranho e mínimo na superfície espelhada dos azulejos.

2 comentários:

  1. É mesmo! Elas passam anos cuidando da criança e depois são despedidas; as crianças crescidas as reconhecem no supermercado mas não sabem de onde; as mães nunca perdoarão as empregadas que levaram uma ou duas peças de roupas; as empregadas lembram de suas crianças, mas não reconhecerão o adulto.

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  2. Sim, existem as vavadas, as marias, raimundas, nazarés e luzias impregnadas na memória, presentes na lembrança de nossa infância. Sim. Elas estão em toda a parte deslizando suavemente nas paredes das casas e quando ouvimos umas canções antigas de ninar ou de roda sabemos que são elas que ainda insistem em nos proteger e atemorizar. bj.

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