16 agosto 2006

Uma oração


Somente meu estado de espírito não será suficiente para a descida no escuro, a viagem no escuro - uma estrada, horizontal como a dúvida, estendida por quilômetros no frio - partiremos à noite, sobre a terra e chegaremos amanhã no mundo; eu e meus comparsas, todos os canalhas, os cafajestes e as dívidas serão pagas e os mortos recolherão em nossas memórias as frases que os mantêm ativos:

"...Ruby era doente, cara" ;
"..Ramón tinha uma merda de direita";
"...aquela polaca do bar não levantou os olhos quando a gente parou lá, mano, que ela tava com medo de ver o Walter de novo";
"...eu falei com o Spencer pra deixar a maluca em paz, mas ela tava procurando ele e trouxe aquele merda do xerife";
"...se o Espiga tivesse por aqui cê num ia tá rindo, não com esses dentes todos"

As rotas estão traçadas e trago a revelação, eu que não sabia coisa alguma sobre a distância entre dois horizontes - as folhas da relva apontam, num movimento vago, a direção do vento e nós vagamos atras de alguma direção possível, era ontem - sei agora que uma única vez você disse meu nome, me chamou, no escuro, por meu verdadeiro nome e isso foi mais do que suficiente para que eu me movesse, para sempre, através desse espaço em que cada pedra, grão, folha, poeira reverbera seu nome submerso, Senhor dos caminhos, Senhor do tempo sobre os caminhos, Senhor das coisas distantes que se aproximam.

2 comentários:

  1. Muito beat. Lembrou-me um pouco Kerouac. Gostei e senti alguma coisa. Talvez uma nostalgia, uma certa dor de mim mesma, de eu existir. Vc me entende, canalha??
    Entende? BJ

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  2. Anônimo4:29 PM

    oi guga, posso sim te enviar o texto do salinger. e O farei-O (sic)very soon. abçs, ana

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