Harold Bloom, aparentemente, leu tudo o que há para ler. Durante mais de meio século Bloom leu incansavelmente. Seus autores favoritos são também, em grande parte, os mais famosos e devemos agradecer a Bloom o fato dele, no seu incansável ofício de leitor, resenhar para nós tais autores famosos e, entre esses, tantos extremamente cansativos.
A maldição do crítico literário é que ele, mais do que qualquer homem de letras, tem que estar vivo, mesmo que de forma figurada. O bom crítico literário lança para o futuro seus limites, conseguindo às vezes abranger uma era ou predizer uma nova. Mas não pode, ao contrário do escritor, sobreviver ao tempo.
Obviamente ele não poderá, depois de morto, fazer a crítica dos novos escritores que surgirão e das estranhas modalidades que a sensibilidade literária trará à tona. Com o tempo, forçosamente, toda crítica literária tende ao obscurantismo. O prisma gira lentamente e filtra outro espectro, o que vale dizer que toda percepção literária muda com o tempo.
Bloom escreve sobre o Dr. Johnson e pula por cima de outras críticas, contemporâneas, pessoas tão sagazes como Edmund Wilson ou George Steiner, que foram leitores poderosos e escritores idem. Eleger Samuel Johnson como crítico preferido implica em compartilhar o mesmo prisma do grande crítico mas, para nossa tristeza, há uma tristeza latente no que Bloom escreve. Talvez esse prisma tenha sido quebrado duramente pela passagem do tempo que produziu, por exemplo, duas grandes guerras e moldou, à força, uma nova e não necessariamente melhor, sensibilidade.
Bloom procura criaturas e valoriza, justamente, as criaturas mais perfeitas, ou seja, as mais consistentes. Ou seja, Bloom ama o teatro e, além do fato de confundir, sem aviso prévio, teatro com literatura, não se dá conta das limitações do primeiro ou não se dá ao trabalho de analisar isso.
Teatro é obra literária, sem dúvida, mas é, no máximo, gênero literário. Exige-se alguma explicação para colocar um autor teatral ao lado de um romancista. Bloom faz o mesmo que Manuel Puig, escritor menor, argentino, que apenas troca a ordem das coisas e confunde literatura com teatro. Por falar em Argentina, Bloom tem dificuldades em assimilar Borges, talvez por que Borges seja o antiteatro, entre outras coisas.
Bloom procura, quase religiosamente, os deuses criadores através de suas criaturas. Shakespeare, sob esse aspecto, é merecidamente o criador supremo. Nada se compara à extensa, variada e viva galeria de personagens criada pelo bardo. Quanto mais poderoso é o criador, mais vida empresta a seus personagens de forma que estes já não são seus arautos, o criador não fala através deles porque eles têm vida própria e são arautos de si mesmos.
Isto é, sem dúvida, um feito notável em literatura e Shakespeare, segundo Bloom, é o mestre absoluto. Temos que concordar. Sob esse prisma, Shakespeare é incomparável. Mas existem outros fatores e, alguns, alheios à capacidade individual do escritor. O problema da transposição entre idiomas é assunto longe de ser resolvido. Shakespeare não resiste bem ao português, principalmente no Brasil. O discurso às vezes hermético, às vezes parabólico de Shakespeare não encontra apoio no sub-português falado no Brasil, obrigando os tradutores a um exercício de retórica quase incompreensível. A culpa, evidentemente, não é de Shakespeare, mas a distância de sua alta retórica para a nossa simplificada fala é um abismo difícil de ser transposto. Bloom se engana ao afirmar que Shakespeare é absolutamente universal, no sentido de ser apreciado igualmente no mundo inteiro. Não é não. O povão mundial talvez aprecie apenas o fato de que suas peças são, em grande parte, rádio novelas baratas. Mas a outra dimensão, a dimensão verbal de seus personagens, que está acima do enredo dessas peças e que constitui a arte quase insuperável de Shakespeare, nos escapa. Não temos, pelo menos hoje, no Brasil, um idioma capaz de refletir o brilho verbal de Shakespeare.
Grande parte (para não dizer a totalidade) da literatura dos séculos precedentes ao século vinte é composta de solilóquios, circunlóquios, hipérboles, palavras chatas e excessivas, volteios e imprecisões – a insustentável lerdeza do ler e do escrever é o título do ensaio (que Milan Kundera não poderia produzir) sobre a chatice sem par da literatura européia até o séc. XX. Há exceções, claro. Contam-se nos dedos. Mas a grande maioria dos autores assombra, como o fantasma de Hamlet, aquela outra e verdadeira minoria silenciosa: nós, pobres leitores.
Quem já leu, ou pretende ler Em Busca do Tempo Perdido? A piada é cruel e de mau gosto, mas necessária: ao final das dez mil páginas constata-se o tempo perdido. Não há nada que Proust possa nos oferecer, hoje, e a inegável maestria da escrita, mesmo em traduções ruins, não é suficiente para sustentar o volume excessivo da deformidade sentimental da obra. Proust e seus personagens são de um outro mundo, distante, doentio e excessivamente melancólico. Um mundo enfermo. Não que o mundo, depois de Proust, seja mais saudável. Mas é mais dinâmico e não comporta mais as prostrações de Proust (o trocadilho é inevitável: proustrações).
Kafka ainda nos surpreende com a grande barata. Mas o que se inicia como um choque, a transformação de Gregor Samsa, se revela apenas um artifício para outra litania desesperadora sobre o Pobre Coitado, o único personagem kafkaniano. Kafka escreveu páginas sobre seu único tema, o Pobre Coitado. A força de Kafka vem do modo como ele escreve sobre esse tema e não do Pobre Coitado em si, que é uma das pragas mais insidiosas da literatura européia, ou ocidental, se quiserem. Há quem goste.
Werther, o jovem de Goethe, raia o retardamento mental. É difícil entender Werther, não a especulativa ingenuidade ou os previsíveis estados emocionais do personagem, já que entendemos imediatamente o que ele demora a se dar conta, mas a pieguice inerente como pilar central da obra. Sem aquela pieguice não há Werther e é difícil acreditar nisso.
Bloom é um tipo de leitor entre vários outros tipos. Quantos tipos existem? Não sei responder a essa pergunta, mas percebo que Bloom percebe e busca o conteúdo das obras que resenha. Na verdade, essa é a forma mais comum de leitura. Procura-se o que o autor está dizendo, o que ele tem a dizer, digamos, sua filosofia. Mas existe aí um problema, não solucionado. Existe outra coisa na literatura, fundamental, pela qual Bloom passa batido. Essa coisa define cada autor, cada livro, de forma que dois autores, usando o mesmo idioma, escrevendo a mesmíssima história produzirão obras tão diferentes entre si quanto dois flocos de neve da mesma nevada vistos ao microscópio.
A maldição do crítico literário é que ele, mais do que qualquer homem de letras, tem que estar vivo, mesmo que de forma figurada. O bom crítico literário lança para o futuro seus limites, conseguindo às vezes abranger uma era ou predizer uma nova. Mas não pode, ao contrário do escritor, sobreviver ao tempo.
Obviamente ele não poderá, depois de morto, fazer a crítica dos novos escritores que surgirão e das estranhas modalidades que a sensibilidade literária trará à tona. Com o tempo, forçosamente, toda crítica literária tende ao obscurantismo. O prisma gira lentamente e filtra outro espectro, o que vale dizer que toda percepção literária muda com o tempo.
Bloom escreve sobre o Dr. Johnson e pula por cima de outras críticas, contemporâneas, pessoas tão sagazes como Edmund Wilson ou George Steiner, que foram leitores poderosos e escritores idem. Eleger Samuel Johnson como crítico preferido implica em compartilhar o mesmo prisma do grande crítico mas, para nossa tristeza, há uma tristeza latente no que Bloom escreve. Talvez esse prisma tenha sido quebrado duramente pela passagem do tempo que produziu, por exemplo, duas grandes guerras e moldou, à força, uma nova e não necessariamente melhor, sensibilidade.
Bloom procura criaturas e valoriza, justamente, as criaturas mais perfeitas, ou seja, as mais consistentes. Ou seja, Bloom ama o teatro e, além do fato de confundir, sem aviso prévio, teatro com literatura, não se dá conta das limitações do primeiro ou não se dá ao trabalho de analisar isso.
Teatro é obra literária, sem dúvida, mas é, no máximo, gênero literário. Exige-se alguma explicação para colocar um autor teatral ao lado de um romancista. Bloom faz o mesmo que Manuel Puig, escritor menor, argentino, que apenas troca a ordem das coisas e confunde literatura com teatro. Por falar em Argentina, Bloom tem dificuldades em assimilar Borges, talvez por que Borges seja o antiteatro, entre outras coisas.
Bloom procura, quase religiosamente, os deuses criadores através de suas criaturas. Shakespeare, sob esse aspecto, é merecidamente o criador supremo. Nada se compara à extensa, variada e viva galeria de personagens criada pelo bardo. Quanto mais poderoso é o criador, mais vida empresta a seus personagens de forma que estes já não são seus arautos, o criador não fala através deles porque eles têm vida própria e são arautos de si mesmos.
Isto é, sem dúvida, um feito notável em literatura e Shakespeare, segundo Bloom, é o mestre absoluto. Temos que concordar. Sob esse prisma, Shakespeare é incomparável. Mas existem outros fatores e, alguns, alheios à capacidade individual do escritor. O problema da transposição entre idiomas é assunto longe de ser resolvido. Shakespeare não resiste bem ao português, principalmente no Brasil. O discurso às vezes hermético, às vezes parabólico de Shakespeare não encontra apoio no sub-português falado no Brasil, obrigando os tradutores a um exercício de retórica quase incompreensível. A culpa, evidentemente, não é de Shakespeare, mas a distância de sua alta retórica para a nossa simplificada fala é um abismo difícil de ser transposto. Bloom se engana ao afirmar que Shakespeare é absolutamente universal, no sentido de ser apreciado igualmente no mundo inteiro. Não é não. O povão mundial talvez aprecie apenas o fato de que suas peças são, em grande parte, rádio novelas baratas. Mas a outra dimensão, a dimensão verbal de seus personagens, que está acima do enredo dessas peças e que constitui a arte quase insuperável de Shakespeare, nos escapa. Não temos, pelo menos hoje, no Brasil, um idioma capaz de refletir o brilho verbal de Shakespeare.
Grande parte (para não dizer a totalidade) da literatura dos séculos precedentes ao século vinte é composta de solilóquios, circunlóquios, hipérboles, palavras chatas e excessivas, volteios e imprecisões – a insustentável lerdeza do ler e do escrever é o título do ensaio (que Milan Kundera não poderia produzir) sobre a chatice sem par da literatura européia até o séc. XX. Há exceções, claro. Contam-se nos dedos. Mas a grande maioria dos autores assombra, como o fantasma de Hamlet, aquela outra e verdadeira minoria silenciosa: nós, pobres leitores.
Quem já leu, ou pretende ler Em Busca do Tempo Perdido? A piada é cruel e de mau gosto, mas necessária: ao final das dez mil páginas constata-se o tempo perdido. Não há nada que Proust possa nos oferecer, hoje, e a inegável maestria da escrita, mesmo em traduções ruins, não é suficiente para sustentar o volume excessivo da deformidade sentimental da obra. Proust e seus personagens são de um outro mundo, distante, doentio e excessivamente melancólico. Um mundo enfermo. Não que o mundo, depois de Proust, seja mais saudável. Mas é mais dinâmico e não comporta mais as prostrações de Proust (o trocadilho é inevitável: proustrações).
Kafka ainda nos surpreende com a grande barata. Mas o que se inicia como um choque, a transformação de Gregor Samsa, se revela apenas um artifício para outra litania desesperadora sobre o Pobre Coitado, o único personagem kafkaniano. Kafka escreveu páginas sobre seu único tema, o Pobre Coitado. A força de Kafka vem do modo como ele escreve sobre esse tema e não do Pobre Coitado em si, que é uma das pragas mais insidiosas da literatura européia, ou ocidental, se quiserem. Há quem goste.
Werther, o jovem de Goethe, raia o retardamento mental. É difícil entender Werther, não a especulativa ingenuidade ou os previsíveis estados emocionais do personagem, já que entendemos imediatamente o que ele demora a se dar conta, mas a pieguice inerente como pilar central da obra. Sem aquela pieguice não há Werther e é difícil acreditar nisso.
Bloom é um tipo de leitor entre vários outros tipos. Quantos tipos existem? Não sei responder a essa pergunta, mas percebo que Bloom percebe e busca o conteúdo das obras que resenha. Na verdade, essa é a forma mais comum de leitura. Procura-se o que o autor está dizendo, o que ele tem a dizer, digamos, sua filosofia. Mas existe aí um problema, não solucionado. Existe outra coisa na literatura, fundamental, pela qual Bloom passa batido. Essa coisa define cada autor, cada livro, de forma que dois autores, usando o mesmo idioma, escrevendo a mesmíssima história produzirão obras tão diferentes entre si quanto dois flocos de neve da mesma nevada vistos ao microscópio.
Cada autor tem seu estilo, e estilo é quase tudo em literatura. Implica escolha das palavras, construção das frases, encadeamento das frases, encadeamento de idéias, ritmo, cadência, dosagem de ironia, humor, mau-humor, ou o que mais exista num texto. É necessário não confundir a eminência literária de um autor, isto é, seu estilo ou a forma com que ele escreve, com o que ele está dizendo. E, afinal, o que os autores estão dizendo? Nada de mais, na maior parte das vezes.
Ulisses, de James Joyce, que deixou os críticos de língua inglesa embasbacados, é exercício de estilo. Traduzido para o português (conheço apenas a versão de Antonio Houaiss) vira prosa de adolescente. Claro, um adolescente que tem futuro na carreira literária, ou seja, talentoso, mas ainda assim, adolescente. Ou isso ou Joyce também não sobrevive ao português.
Li mais sobre Ulisses do que me lembro do livro em si. Li sobre a estrutura rigorosa, ou o rigor estrutural (sic) da obra, li sobre a recriação da Odisséia, sobre complexidades e/ou profundezas psicológicas, fluxo dissertativo do inconsciente, etc. Bobagem. Joyce, com o perdão da palavra, era jovem demais, a despeito da idade cronológica. Há uma ingenuidade, comovente, em Joyce. Assim como em Charles Dickens, que a crítica anglo-saxônica insiste que seja ouvido (lido). Mas quem pode ler e levar a sério uma novela mexicana?
Bloom trata, por exemplo, Faulkner, Garcia Marques e mesmo Borges com reserva. Mais ainda esses dois últimos. Os três têm em comum o fato de que não são grandes criadores de personagens. Na verdade eles não se importam muito com isso. O personagem principal de Faulkner é uma espécie de divindade, talvez do tempo, um anjo do destino, que, evidentemente, não está na história mas paira sobre cada linha escrita e força o leitor a enxergar sob seu prisma. Os personagens de Garcia Marques são, praticamente, uma só pessoa. Falam da mesma forma e agem igualmente. Homens e mulheres, somos todos iguais e, de certa forma, isso ajuda no contraste com a fantástica realidade em que vivem, essa sim, sua grande, rica e imprevisível personagem. O personagem de Borges é a própria idéia central do conto, quase sempre surpreendente e complexa. Bloom, admirador radical de Shakespeare, espera sempre encontrar algum Hamlet perdido por aí. Dá a impressão de que não vai desistir dessa busca, ainda que a literatura, como no caso, possa apresentar novos parâmetros.
Ulisses, de James Joyce, que deixou os críticos de língua inglesa embasbacados, é exercício de estilo. Traduzido para o português (conheço apenas a versão de Antonio Houaiss) vira prosa de adolescente. Claro, um adolescente que tem futuro na carreira literária, ou seja, talentoso, mas ainda assim, adolescente. Ou isso ou Joyce também não sobrevive ao português.
Li mais sobre Ulisses do que me lembro do livro em si. Li sobre a estrutura rigorosa, ou o rigor estrutural (sic) da obra, li sobre a recriação da Odisséia, sobre complexidades e/ou profundezas psicológicas, fluxo dissertativo do inconsciente, etc. Bobagem. Joyce, com o perdão da palavra, era jovem demais, a despeito da idade cronológica. Há uma ingenuidade, comovente, em Joyce. Assim como em Charles Dickens, que a crítica anglo-saxônica insiste que seja ouvido (lido). Mas quem pode ler e levar a sério uma novela mexicana?
Bloom trata, por exemplo, Faulkner, Garcia Marques e mesmo Borges com reserva. Mais ainda esses dois últimos. Os três têm em comum o fato de que não são grandes criadores de personagens. Na verdade eles não se importam muito com isso. O personagem principal de Faulkner é uma espécie de divindade, talvez do tempo, um anjo do destino, que, evidentemente, não está na história mas paira sobre cada linha escrita e força o leitor a enxergar sob seu prisma. Os personagens de Garcia Marques são, praticamente, uma só pessoa. Falam da mesma forma e agem igualmente. Homens e mulheres, somos todos iguais e, de certa forma, isso ajuda no contraste com a fantástica realidade em que vivem, essa sim, sua grande, rica e imprevisível personagem. O personagem de Borges é a própria idéia central do conto, quase sempre surpreendente e complexa. Bloom, admirador radical de Shakespeare, espera sempre encontrar algum Hamlet perdido por aí. Dá a impressão de que não vai desistir dessa busca, ainda que a literatura, como no caso, possa apresentar novos parâmetros.
Acho que vc se tornou um especialista na crítica literária. Seus argumentos são convincentes.
ResponderExcluirEm relação a tradutores, realmente fica difícil encontrar um que realmente saiba expressar em português o verdadeiro significado das expressões. Com exceção dos Campos, Leminsk e outros poucos, fica intolerável, às vezes, a leitura de certos livros estrangeiros.
A sua análise sobre Shakespeare foi muito pertinente e a sua visão do teatro, como, no máximo, um gênero literário, chocante.
Então, meu amigo, continue nessa linha, que vai bem.
Gostaria de entender mais sobre outros autores os quais citou, mas sei muito pouco a respeito.
Já li sobre Bloom, mas em textos fragmentados.
Assim que tiver tempo, vou procurar me inteirar do assunto.
No mais, cara, manda ver!
Beijo.
Cuidado com a maldição dos críticos...
Não simpatizo com a visão supra ocidental que Bloom lança aos seus autores canônicos; nem acredito em cânone. Mas ainda acredito na tradução que, com certeza, nunca será uma transposição de palavras e sim, sempre, outro texto, adaptado à outra outra cultura e, eu diria até, à outra religião. Um texto é como algo religioso, único; impossível fazer outro igual trocando as palavrinhas. Acho interessante que se pense no motivo de, no Brasil, estarmos sempre apontando o tradutor como o culpado pela perda da essência do autor de origem. Uma tradução de Shakespeare não é e nunca será "um shakespeare" e sim uma nova abordagem de um texto de Shakespeare. Com certeza, seria mais interessante se cada um fizesse a sua própria abordagem.
ResponderExcluirNo mais, adorei o texto; mas simpatizo com o manuel puig :]
ei, não tem nada a ver mas procura LIR, quem sabe a rede faz vocês encontrarem caminhos nunca dantes navegados?Prometo assistir de camarote o que vocês me apresentarem!!!!
ResponderExcluirmusa da redundância. devia estar bêbada, mesmo.
ResponderExcluirguga, como é que eu faço para te enviar o texto do salinger que vc me pediu? manda por aqui mesmo? há espaço? abraços, ana
ResponderExcluirSe trocassemos os nomes que Harold bloom repete em seu livro, creio que não daria 20 paginas...
ResponderExcluirTodo esse seu blablablá foi para dar a impressão que Proust, Joyce, Dickens, etc são escritores fracos e superados? Tsc-tsc. Por quem? Como bem disse Proust, "A morte nos cura de nossos anseios de eternidade"... parece-me que as gerações literárias atuais esqueceram que também correm risco de serem esquecidas e superadas pelo... passado da Literatura. Acho que o que há é uma preguiça universal de leitura para quem nasceu já vendo TV, uma geração que prefere "ver telas", como bem diz Bloom. Como lerão as 3.800 páginas da "Busca"? É mais fácil e engraçadinho dizer que Proust não presta. Bom, é interessante ver alguém que sabe escrever dizendo que Kafka e outros escritores não têm mais valor nenhum. Relativismo. A velha e sempre grotesca ladainha anti-literária. Cabe aos escritores atuais, se é que estes têm algum propósito estético além do mercadológico, digladiarem-se à foice para ver se sobrevivem numa arena cada vez mais vulgar. Nesse sentido, concordo com você, não é o estilo, mas digamos o homem e o conteúdo das suas idéias que interessam mais a Bloom, tanto que ele menospreza os achados do Modernismo como uma novidade que nos arrebata temporariamente mas que não prevalece, esquecemos, porque não têm a força e a pertinência da verdade. Joyce era um adolescente? Joyce inventava linguagem, como Shakespeare, mas foi por criar personagens humanas poderosas como Poldy e não por suas palavras-valise, de resto batoteadas de Lewis Carrol, que ele tocou o genial. Penso que a busca de uma escritura sábia definiria melhor o Bloom e os leitores de verdade, que lêem por prazer, sem medo de livro nenhum, a não ser dos pessimamente escritos.
ResponderExcluirEnfim um comentário sábio neste mar de arrogância e mediocridade da pos-modernidade.
ExcluirOlá, Joseph K
ResponderExcluirseu comentário chegou em boa hora. Escrevi esse texto quando eu era ainda mais jovem, mais arrogante e mais auto-confiante. Ainda conservo, mal e mal, pelo menos uma dessas três características, mas não vou dizer qual. Não é a segunda, posso garantir.
Eu poderia tentar "provar" que Joyce é adolescente e mostrar um texto meu, por volta dos meus 17 anos, sem ainda ter lido uma única linha de Joyce. Não vou fazer isso, claro. Nunca. Tenho hoje uma compreensão mais "humana" sobre todos esses grandes chatos, Joyce, Beckett, Proust, Kafka. Continuam a ser "os grandes", principalmente por simples comparação com a produção literária atual, por exemplo. Mas nada disso importa tanto. Prevejo, como Cassandra, louca e sozinha, olhando os muros de Tróia: essas muralhas cairão. Talvez eu ainda esteja vivo para ver. Abraços.
Kafka,Joyce,Proust...Não, eles não são bons.Eles são muito, muito mais que isso, eles são eternos.Sabe o que é eternidade? É algo que não se apaga no decorrer do tempo,e que esta acima dos juizos de valores e das críticas fracas e infundadas.Existem aproximadamente 7 bilhões de pessoas no mundo,e entre elas, pode-se contar nos dedos quantas entrarão para eternidade.Infelizmente temos que nos dar com "falsos literatos" que tratam a literatura como profissão apenas, que lêem por hábito e não por paixão, esses não conseguem entender a essência de uma verdadeira obra de arte, por isso preferem chamá-las de "chatas", esses são os insetos a que Kafka se referia que levam sua vida longe postura artística e se tornam tão comuns que só conseguem ser seguidos por suas próprias sombras.
ResponderExcluirDiga-me meu caro quando Shakespeare, Kafka, Proust e Joyce foram superados? Por quem, por você? Ficaria imensamente feliz em ler um texto seu ou de qualquer outro escritor comtemporâneo que superasse qualquer um desses. Na verdade, sinto que estou perdendo tempo escrevendo aqui,por é muito mais fácil abrir um livro que uma cabeça já contaminada pela vida fútil e hipócrita que o mundo atual oferece.Quanto ao mais,leia, leia muito caríssimo,talvez um dia você perceba que Bloom pode sim estar errado sobre certas coisas que diz, mas você inocentemente resolveu tentar pegá-lo naquilo que ele diz de melhor.As grandes obras são compreendidas por grandes homens, tente ser um, talvez você consiga achá-las menos chatas. Por enquanto,encontre bons argumentos porque os seus são muito fracos,gostaria de continuar debatendo com você, principalmente sobre Proust, Shakespeare, Kafka e Joyce,talvez você mereca a chance de aprender o que é literatura. Cordialmente.Erik Prateado.
É engraçado como as pessoas tomam as dores de "grandes escritores".
ResponderExcluirA verdade é que a crítica literária é uma outra forma de literatura que é, no fim da contas, "a arte de si mesmo". O "grande escritor" escreveu para ele mesmo, mais do que para os outros. Assim também o crítico. Um não atinge o outro, estão em mundos paralelos. Um sonha com suas próprias penas, talvez com penas divinas se os gregos estiverem certos. Outro sonha com a pena de outros. Mas sonhos são incomensuráveis...
"As grandes obras são compreendidas por grandes homens" - é por essas e outras que prefiro os "pre-joyceans".
O que acho estranho é que as pessoas não costumam julgar a literatura com termos tais quais "certo" e "errado", mas quanto à crítica literária, sempre vem alguém querendo trazer essa chata dicotomia para a conversa...
Ótimo texto. Não compartilho suas idéias qto a Shakespeare, Goethe, Joyce, e demais, mas não há "errados" nessas questões...
Não concordo com seu parecer, mas adorei tanto o texto quanto os comentários.
ResponderExcluirPs:Poxa!!! Falar mal de Goethe... Daqui a pouco até Machado de Assis (!!!!) vai ser fraco...
Palmas a Erik Prateado e a Joseph K.
ResponderExcluirCuriosa essa cruzada reducionista contra os doentes e pobres coitados. Imagino que o autor desse texto seja uma pessoa eternamente feliz e nunca se angustie com as facticidades da incerta e finita vida humana, que encontram sua expressão catártica na literatura de linguagem "chata" que ele procura evitar.
ResponderExcluirÉ, realmente o comentário sobre Proust é algo que não merece nem comentário... concordo com o coleguinha que disse que em termos de crítica, tanto quanto em literatura, não deve haver a dicotomia engessante do "certo" e "errado", no que acabo por balizar seu relativismo... mas, por favor, colocar Proust, Joyce e Dickens no mesmo balaio de gato dos ultrapassados é um ponto de vista de fato muito singular e nem um pouco criterioso. De qualquer forma, parece que vc se divertiu achincalhando algumas obras primas, né??? Da próxima experimenta relativizar o Borges tbm e falar um puquinho mal dele...
ResponderExcluirPelo menos você tem audácia. E digo isso como um elogio, antes de tudo. Talvez a audácia seja a característica mais importante de um crítico/escritor. Apesar de não concordar com o redondo das suas conclusões (conclusões às vezes vestidas de uma arrogância restritivista, como na expressão “sub-português”) simpatizo com o seu texto, pelo menos mais que com o do Erik Prateado onde se utiliza a palavra “eternidade”. No seu texto, Erik deixa transparecer aquele anseio agoniado de se pertencer a categoria dos “grandes homens”, pelo menos dos grandes leitores. Concordo com a sua visão (uma visão não exposta que talvez seja apenas a minha visão) que as grandes obras são frutos de um redemoinho de criticas que, através dos anos, tratou de criar o terreno do “sagrado intelectual” onde só entram os predestinados, os capazes de compreender. Assim como na religião, a literatura possui os seus guardiões da verdade, seja a verdade o sentido do sagrado ou da “verdadeira arte”. Onde está esta tão propagada “eternidade” das grandes obras literárias? No espaço de quanto tempo? Para quem? Atribuir a essas obras as características de eternas, absolutas etc e tal, não é apenas atribuir a si mesmo a capacidade de compreender o “sagrado da arte”. Sagrado esse estupidamente incompreendido pelo povão, não é mesmo? Não consigo separar este tipo de misticismo com o fanatismo religioso. Talvez grande parte da critica que se empenha a esmiuçar o cânone ocidental se desse muito bem como teólogos irredutíveis da Biblia ou do Al Corão. Somente essa atitude de audácia perante o cânone (altar) pode ser construtiva. Uma atitude que seja minimamente consciente e vazia de preconceitos. Ler Shakespeare não é firmar a obrigação de considerá-lo o ser humano mais extraordinário que já pisou nesta terra tão ignorante. Pois é, mesmo ele, o bardo. Shakespeare não é a natureza, ao contrario do que afirmou um critico que agora não me recordo o nome , e fazê-lo um juízo negativo não é fazer a si mesmo um juízo negativo. Digo isto independente de traduções, oh!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirE eu que estava pronto para entrar na obra de Joyce, a partir da leitura de sua breve biografia... Essas análises como a do caso presente mais atrapalham que ajudam. Só servem para demonstrar o "eruditismo" do autor.
ResponderExcluirera um autor que eu não conhecia e gostei muito das suas criticas e homenagens a Machado de Assis
ResponderExcluirPuig não é um autor menor, nem a sua concepção de literatura tem algo que ver com confusão entre esta e teatro. É muitíssimo mais complexo do que isso.
ResponderExcluirOi. Guga!
ResponderExcluirEu lhe agradeço pelo breve e interessante texto!
Ajudou-me na minha busca sobre o BLOOM! Há de convir que este é um passadista e o mais estranho rs*. Ele n gosta da literatura de POTTER (RÁ, RÁ, RÁ). Ele adora ASSIS. Machado. Que era apelidado de BRUXO. Que ironia ou que idiotice mercantilista? BEIJOSSSSS.
Angelica!
Achei brilhante a sua crítica, a sua maneira de ver Bloom. Não tenho como adentrar às críticas que teces porque a minha caminhada na literatura é pequena e insignificante. Venho da filosofia e da teologia. Kant, Heidegger, Nietzsche, Derrida, vattimo, também Platão e Aristóteles sempre me pareceram autores de boa envergadura. Mas me consolaste. O português é o problema. Pois, lendo Bloom, "Onde encontrar a sabedoria?" e o "O Cânone ocidental" constantemente somos desafiados a ler que Shakespeare é fundamental, que "Werther" de Göthe isso e aquilo, que Cervantes sei lá o quê. De Cervantes, não posso dizer porque nunca terminei a leitura de Dom Qixote, mas o Hamlet e o Jovem Werther sempre me pareceram fracos demais. Quero crer que a coisa esteja no português então. Não sei porque, mas Doistoiéwski me parece muito mais impactante. E Bloom, pelo que li até agora, não vê o russo com tão bons olhos assim, embora fale dele também. Ah de Tolstói ele fala bem. E com razão, creio. Foi um escritor de fina estampa mesmo. Mas há em Bloom algo que admiro e que condenaste: a) a associação entre teatro e literatura; b) a identidade que Bloomm corajosamente estabelece entre outor e obra. Essa coisa anti-historicista que admiro. Husserl e Heidegger foram por esse caminho, contra as correntes majoritárias de seus tempos. Creio que Bloom sabe das críticas que receberia por isso. Mas a coragem se assim insistir e continuar a pensar assim depois de mais de 50 anos de profissão e mais de 80 de vida é o grande mérito dele.
ResponderExcluirA sua tentativa inútil e nada sútil de tentar rebaixar Dickens, Proust e Kafka é hilariante. Vc começa fazendo suposições arbitrárias, e não consegue entender o que é universalidade, restringindo o termo a linguagem (que é apenas um dos fatores da literatura) vc é incapaz de compreender o que é universalidade. Pelamor, Universalidade são os temas, a esse respeito os grandes autores são universais porque o conteúdo de suas obras nunca sai de moda e atravessa o tempo, isso é algo que inexiste nos escritores modernos quais vc tenta colocar no mesmo patamar dos grandes ridiculamente. Querer restringir a literatura em quem manda e quem obedece também é ridículo, não adianta vir com esses textos pseudo-marxistas querendo abolir nossa cultura ocidental porque é impossível. Em toda a história sempre existiu e sempre vai existir a elite e as massas, felizmente para se chegar nos primeiros precisa de conhecimento e é esse o objetivo de todo ser humano que se preze, nunca vai existir um mundo onde todos são iguais.
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