As vozes americanas estão caladas
“Quais vozes?” - dirão, dentro dos desertos
os filhos da antiga natureza.
“Quais vozes?” - dirão, dentro dos metrôs
os eleitos
correndo nos trens elétricos.
Ginsberg (um outro Withman,
cientes um do outro
em todas as prateleiras públicas)
O peixe celacanto
desaparecido no fulgor da aurora
redivivo no apartamento
e nas paredes dos quartos impossíveis
e incendiando a imaginação da estrela
e configurando na terra a estirpe
dos que não tem amigos
apenas o resíduo dessa ilusão.
Assim pesado, dentro do espaço da moldura.
Ali parado, no cotovelo que sustenta o punho
que sustenta a mão e a cara triste.
Ali completo, por um segundo.
Ali e só ali, alívio.
Ali e só ali, babá
da criança que, segundo Yeats,
se arrastou para nascer
como a Besta, em Belém.
Mudo, no silêncio, e loquaz
pela possibilidade nociva do homem
que, por exemplo,
despenca das alturas do edifício
e passa por vidraças em formação geométrica
onde pessoas tristes, dentro dos quartos
o observam na queda
por milésimos de segundo.
Fantasmas calados aparecem
na extremidade da rua
como premonições de que um dia
todos nós nos encontraremos.
Foi-se o alto poeta beat,
besta demasiado rouca
anta, demasiado vil
para o país Brasil,
abaixo do hemisfério isolado
da sua influência.
Seu medo era o medo geral
do poeta, do judeu, da gentalha
e o dilema: Dylan Thomas:
a escrita que foi falha.