25 abril 2006


Banheiros

Banheiros

O templo sagrado da humildade é o banheiro. Estamos ali a sós, percebendo a fragilidade da carne, olhando o espelho que nos confronta com um outro ser que nos olha, pasmo, atras do vidro e nos mostra a realidade de uma anatomia que sente, mais do que supunhamos, a passagem do tempo. Ali permanecemos às vezes quietos e pelas paredes, em silêncio, reverberam memórias, alguns sonhos, uma gôta de água estala musicalmente em algum canto e acordamos de repente no meio de uma função qualquer, mas extremamente física. Ali testamos, meio sem graça, algumas posturas a serem talvez usadas a posteriori, mas não, não funcionou. Ali descobrimos recantos do corpo ainda não mapeados, testamos as juntas, joelhos, juventudes idas, nos tocamos como desconhecidos e em silêncio, até que a água de um chuveiro nos absolva e, talvez, cantemos alegres porque sentimos, estamos vivos. Acredito piamente que a água de uma pia é um bálsamo e que o brilho nos ladrilhos, latrinas e canos dissipam o engano, humano engano. Todos aqueles que saem de um banheiro são, em proporção direta com o tempo em que lá estiveram, seres humanos melhores, ainda que mínimamente, do que quando entraram.

18 abril 2006

Ausência forçada.

Depois que os níveis energéticos foram a pique, pane (et circenses) na rede elétrica, a máquina e seu macaco de estimação (eu) perigosamente lutando contra o destino, perdido nos caminhos onde a Internet nos interna, sem pausa ou descanso, a passo de ganso, consigo recuperar uma mínima parte dos arquivos e assisto o final da tragédia, o computador estertora, trava e tranca-se num autismo cibernético do qual não sairá jamais pelo simples fato de que simplesmente sifu. Mando pro conserto, o concerto dos otários não para, sou o tenor, pra não dizer que sou soprano, o que soa meio histérico demais, e espero notícias alvissareiras, até de madrugada. Meu computador ficará pronto em breve. Breve é a vida. Estou aqui na lan-house, sentado entre meninos maníacos, seriais killers em potencial, tentando explicar minha ausência pra mim mesmo. O jornal tem que continuar. Faço o que posso. Em breve voltarei com a carga e a coragem, o côro dos descontentes e a corrupção dos costumes intactos! Assim espero.

10 abril 2006


Turismo II

Turismo I

Vós, do Iguaçu

Participei, já tem um tempo, de um concurso de desenhos de humor lá na Foz do Iguaçu cujo tema era turismo. Era um salão internacional e ganhou um russo, pela segunda vez, com um humor meio Seleções do Ridest Digest (é assim mesmo que se escreve?) e um desenho meio lambido. Teve mais quatro prêmios, um deles realmente engraçado, os outros... Eu não sabia que era um salão de humor infantil (não era não, tô sendo irônico) e mandei duas variações de uma mesma idéia, um pouco maliciosa, talvez. Fui selecionado mas não ganhei. Sei lá, eu não esperava que a tônica do concurso fosse tão light, ou tão lírica, ou tão primaveril, ainda mais numa cidade de fronteira e contrabando. Bom, tô mostrando aqui os dois cartums, aí em cima: Turismo I e II. Uma coisa eu posso afirmar: são desenhos. Ei, jurados da Foz do Iguaçu: vão tomar...banho. De preferência debaixo das cataratas.

Cinema

Nove
entre dez estrelas
gostariam
de sê-las.

Nos bastidores da historia: o arquiteto de Pizza..

Por que por que?

Uma das coisas mais irritantes da língua pátria (argh) são as regrinhas meio ridículas do uso do porque. Decorar uma regra não a torna necessariamente válida e os professores de português têm culpa de ensinar e, consequentemente, perpetuar essa bobagem. Em nome de que? Da língua bem falada. Ora, quando a gente fala não há a mínima diferença entre o por que, o porque ou o porquê. E quem escuta não faz nenhuma confusão a respeito. Quem lê também identifica imediatamente o sentido de qualquer dessas grafias, mesmo estando impropriamente colocadas. Na internet o pessoal só escreve pq e ninguém se preocupa pq sabe q o outro já entendeu. Então, pra que esse preciosismo que não vale um centavo furado? Eu proponho o uso da grafia porque em qualquer situação e zé fini. Pq não? Ah!.. pqp!

08 abril 2006


Pequenos Mal Entendidos

Pequenos Mal Entendidos *

A começar pelo título: jovens homossexuais não assumidos? É, por que "pequenos mal entendidos" pode ser interpretado desse jeito. Eu não sei. Mas de qualquer maneira isso acontece, e muito, em toda atividade humana: alguém fala uma coisa, o outro ouve outra. Vovô viu a uva. Na verdade o vovô viu a viúva, de uma maneira bíblica, e o netinho comentou, e todos entenderam pela metade, e o vovô viu que era bom, tanto a viúva como a frase do netinho, que livrou a cara do vovô. Rá! Mas vamos lá: escrevi um pequeno poema, tipo hai-kai, para explicar a arte pra mim mesmo. Mas a Musa não dorme no ponto e já veio cheia de ambiguidades. Os famosos mal entendidos:

Escrevo como eu pinto
Pinto como eu falo
Falo como eu sinto
Sinto como eu calo

...daí pra gandaia é um passo:

Escrevo com o meu pinto
Pinto com o meu falo
Falo com o meu cinto
Sinto com o meu calo.

*. Professores de português: eu não sei e não quero saber usar hífen.

07 abril 2006


Vida II

Vida I

O velho relógio
soa o gongo.
A vida
é um momento longo.

04 abril 2006


Happiness is a warm gun, yes, it is

Armai-vos uns aos outros.

De onde vem essas armas que esses danados carregam pelos morros afora? O problema da arma de fogo é que ela provoca um certo tipo de felicidade em certas pessoas e uma das coisas mais difíceis de estirpar é um hábito feliz. Eu me lembro da mulher na televisão (acho que era dessas comunistas antigas, do PT), óculos de grau, tristeza geral e a fala queixosa, se queixando justamente da violência que, segundo ela, impera na sociedade. A solução que ela propunha era recolher as armas. Vocês se lembram? Houve o plebiscito e a plebe ignara votou que não, que não vai recolher coisa nenhuma. O assunto esfriou e, como dizia o João Lenão, a felicidade é uma arma quente. Ouço tiros semanalmente nos morros que circundam minha casa. Na verdade os morros não circundam nada, eu é que fui morar num lugar que já era circundado mas, isso é fato, o tiro estala nas grimpas, nos contrafortes da madrugada. Pelo menos uma vez por mês. Eu nem gosto de armas, mas gosto menos ainda de sujeitos armados que venham em minha direção. Não vem não! Eu vou atirar antes.

01 abril 2006


A tese da toupeira

A tese da Toupeira (pós graduação, mestrado... sei lá.)

Sou uma toupeira, certo? Enquanto toupeira, a nível de motivações vitais, inserindo-me num projeto subterrâneo motivado exclusivamente pelas incessantes demandas de um extrato pós-metafísico e de urgência nitidamente vitalista, seguindo o modelo pós-condicionamento imposto por uma neo-realidade não alternativa por que auto suficiente e resistente ao neo-paganismo pan-explicativo das atuais porém tendenciosas hiper-correntes filosofais do pseudo existir em si, dentro das quais está inserida a cotidiana re-ausência do próprio fluxo temporal que limita e determina o querer e o pré-almejar das inorganizações latentes no tecido íntimo do desejo em si; então, posso afirmar, aludindo ao já exposto e ex-posto, ao remeter à própria indicação dos símbolos enquanto transmissores de sigmas completos: SOU CHEGADA NUMA CENOURA.