16 novembro 2006
Pequenos Pensamentos Pertubadores II
Bem, não existe a menor chance de você escolher pessoas para seu relacionamento. Você nasce e, evidentemente, não escolhe sua família. Você também não escolhe seus vizinhos. Dentro de um número reduzido de conhecidos você elege seus amigos, amigos de infância, colegas mais chegados. Você convive com eles e nunca vai saber se eles são os melhores amigos que você poderia ter simplesmente porque você não conhece todas as pessoas à sua volta.
É comum você morar durante 20 anos num lugar e nunca ter visto alguns dos seus vizinhos que, do mesmo jeito, moram ali a décadas. Você namora, fica noivo, se casa com alguém e vou dizer uma coisa: seu leque de opções é sempre ridículo se comparado com as centenas de pessoas que você poderia ter conhecido - porque circulam por onde você anda - mas que você nunca viu. Nem vai ver.
Vou chamar esse negócio de Índice de Visibilidade: iv (assim, com minúsculas, pra não ficar parecido demais com algarismos romanos). Se você nasceu com um iv alto, você se torna uma pessoa famosa. Não importa o que faça. Por outro lado, se seu iv é mínimo, você pertence à vasta legião dos semi-visíveis, dos embaçados ou até dos invisíveis.
Não importa que você trabalhe como um condenado para aumentar seu iv; ele já está mais ou menos programado por forças estranhas (forças que têm, de propósito, um iv baixíssimo). Assim é que existem moças belíssimas que passam a vida colhendo sementes nas estepes da Baixa Eslobóvia e nunca souberam que nada ficam a dever à Gisele Bundchen em "beleza e graça". Assim é que um sujeito subnutrido sai de uma aldeia subnutrida do interior da Bahia e vai, sem escalas, aparecer na TV, em São Paulo, e daí pro Brasil inteiro e um outro, compositor também notável, passa suas noites cantando num boteco fudido pra meia dúzia de pessoas completamente desinteressadas.
Penso também nas pessoas que tiveram a má sorte de estar dentro do círculo de influência de sujeitos como Stalin, Hitler, Mao, Che Guevara ou do curingão latino e ladino, Fidel. E outros, claro. Essas pessoas também não tiveram escolha, tendo que aguentar a pressão, tantas vezes letal, que a simples presença desses rábulas escrotos causava. As outras pessoas com iv alto, nesses casos, ou aderem ou perecem.
Parece assim: a vida é um jogo de cartas, pôquer, digamos e, para enfrentá-la, você recebe suas cartas, e só. Faça o melhor que puder com as cartas que você tem na mão. Ou não. Mas você não pode trocá-las.
13 novembro 2006
Pequenos Pensamentos Pertubadores I
Vamos falar de astronomia. Por que não? Imagine um quarto vazio, totalmente vazio, onde flutuam no ar dois grãos de poeira. Os grãos se movem, digamos, aleatóriamente. A probabilidade de um choque entre ambos, num período de um dia, por exemplo, é praticamente zero. Mas se você estender o fator tempo, a probabilidade tende a crescer. Num período infinito de tempo, a probabilidade é um, ou seja, haverá um choque. Perceberam onde quero chegar? Há pouco tempo houve uma pequena chuva de meteoros em Júpiter. Meteoros do tamanho de Fernando de Noronha. Daqui tiraram fotos e calcularam a força gerada pelo impacto, algo como dez milhões de bombas de Hiroshima. Como o prometido: um pequeno pensamento perturbador.
04 novembro 2006
Abaixo, nas ruas, fenômenos noturnos em seqüência aleatória.
A mulher das pernas russas indo de encontro ao chamado das esquinas. O motorista perdido que passa com seu carro, vidros fechados, inúmeras vezes pela mesma rua. O ônibus enguiçado há mais de 3 dias, ocupando com seu silencioso peso a entrada da garagem do edifício. O vendedor ambulante de sorvete que vende sua mercadoria em plena noite, todas as noites e no mesmo cruzamento, entre dez e meia noite, quando então vai embora e ninguém sabe ao certo para onde. 15 degraus, erguidos rente ao muro do colégio e que terminam sobre o muro, em pleno ar. O próprio colégio, desativado há tempos, num tempo não cronometrado. Um menino estranho, que amava doidamente seu cachorro e de quem eu nunca soube, nem quis saber, o nome. Mas ele, de uma forma ou de outra, acabou se insinuando em meu desenho, sem que eu esperasse, de forma que esse mesmo desenho tem essas outras memórias penduradas, desse tempo em que eu morava na rua São Paulo.
03 novembro 2006
Amar É...
Bem, isto é uma hq que refiz para a revista Graffiti. Publiquei essa história no meu antigo fotolog, em quadros isolados e comentários fora dos quadros. O enredo era outro. Eu tinha dado o nome de Append City e a idéia, além de ser uma paródia e gozação do Sin City, era estender a história até um pequeno apocalipse. Não tive fôlego ou tempo para manter o projeto e a história acabou mudando e indo para a revista Graffiti, o que foi muito melhor. Tive que juntar os quadros e compor páginas, de forma que isso virou mesmo uma hq. Eliminei as cores, para baratear a impressão (no papel) e achei que ficou melhor. Não gosto tanto de cores. Um detalhe legal é que a história foi toda desenhada no computador, muitos desenhos feitos no velho Paintbrush e apenas "amaciados" no Photoshop (5.5). Parece que em breve vai estar nas bancas, no próximo número da Graffiti. Isso aqui é uma prévia, pré-estréia, esse tipo de coisa.
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