25 maio 2006
Modigliani: uma pintura
Assim que a pintura morreu lembrei-me das últimas palavras de Modigliani: "Cara, cara Itália". O que fazia aquele italiano perdido nos bairros perdidos de Paris no início do século passado? Pintava uns quadros, entre uma bebedeira e outra. Pintava alguns nus femininos, entre uma namorada e outra. Sempre pintou retratos (são conhecidas apenas duas ou três paisagens e, que eu saiba, nenhuma natureza morta) e seus retratos são caricaturas de outra espécie, não são humorísticas e captam características físicas dos retratados de uma forma extremamente poética. Modigliani era de um bom gosto extremo. Nesse aspecto ele foi o oposto do seu contemporãneo, Picasso. A combinação de cores em Modigliani é ímpar, nunca par, e é a prova dos nove de qualquer pintor. Nas mãos de Picasso a pintura foi demagógica, populista, grosseira e poderosa, colocada de propósito aquém da capacidade de discernimento de qualquer um; quantos milhares de pessoas já pensaram diante de um Picasso: "se isso é arte, meu filho de cinco anos é um gênio" e, no entanto o atrevimento de Picasso paralisou qualquer reação. Ninguém reage quando o atrevimento é muito porque o muito atrevido é, por definição, sem freios. (vide políticos, bandidos em penitenciárias, etc) Modigliani viveu arduamente, uma barra meio pesada, morreu jovem, por excessos de toda ordem, mas sua pintura é de uma serenidade extrema. Nela há uma sofisticação, um refinamento, incompatível com a realidade popular das almas populares (sic). Não importa, ele fica lá, no passado e, de vez em quando, alguém, precisando de um pouco de poesia, vai lá olhar.
12 maio 2006
Coelhos Negros
Os coelhos negros caminham, eu diria em silêncio, mas seus passos são nitidamente audíveis nas almas sensíveis. A rima ficou péssima, mas a dura realidade não arreda pé: os coelhos negros invadem os espaços possíveis, recôncavos da psique, malocas do superego, bibocas do id e o que mais vier. Compõem a vasta legião das sombras móveis, nas extensões quadradas em quilômetros quadrados da ilha em que habitam, o único habitat conhecido de sua vasta linhagem. Eles têm hábitos estranhos, mas não fazem o monge. Digo, não fazem esse tipo. Eles têm incisivos desenvolvidos e incidem com eles sobre cenouras desavisadas. Eles são muito incisivos e a incidência de choques dentais é enorme. Os coelhos negros são caolhos, mas você não pode perceber isso, já que, vistos de frente, olham sempre pra outro lado, de forma que sempre passam a impressão de que ninguém os olha e isso influencia gravemente o observador que começa a duvidar de si mesmo. "Se não os vejo como acredito que os veja, acreditarei no que vi?". Os coelhos negros são habitantes de outras paragens, outras praias, ilhas desertas. Mas não morrem na praia. Eles desaparecem para sempre assim que você os esquece.
Isso é uma propaganda que não passaria pela seleção de nenhuma agência de publicidade, mas eu anuncio: aguardem! Os coelhos negros vêm aí!
Isso é uma propaganda que não passaria pela seleção de nenhuma agência de publicidade, mas eu anuncio: aguardem! Os coelhos negros vêm aí!
04 maio 2006
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