Penso em Wandeir e seus problemas, a começar pela minha dificuldade em lembrar seu nome. Porque eu preciso dos serviços dele. Estou construindo uma casinha na beira de um lago e Wandeir tem um ferro-velho, um topa-tudo - eu não sei definir a razão comercial da coisa - e Wandeir vende coisas que eu preciso.
Coisas usadas, vigas usadas de madeira e mesinhas de ferro usadas, tambores de plástico e grades de portão. Coisas pelas quais eu pagaria uma pequena fortuna nas boas casas do ramo e nas quais eu seria tratado como uma rameira velha na hora de pechinchar. Pago algo em torno de 40 reais por uma viga de madeira de 5 metros de comprimento e que pesa 150 quilos, no mínimo. Um pedaço de peroba pura, sei lá, escurecida pelo tempo e pela indiferença humana (não resisti à frase de efeito, sorry).
Essas árvores quase não existem mais e na Europa você pagaria uns 1000 euros por um pedaço de paraju muito menor. Essas madeiras estão em extinção e eu não me importo nem um pouco em ter um exemplar sustentando a quina do telhado da minha modesta varanda, perto de um lago muito calmo. O espírito da árvore original talvez se sinta mais confortável na minha varandinha que dá para uma mata, que não é nenhuma amazônia, mas é mato e tem lá seus curupiras e, quem sabe, seus elfos imigrantes.
Mas Wandeir é um problema brasileiro sem solução para mim. Wandeir, Wantuir, Josilene, Joiciene e Joiciane, Edirley e Edirlene, e Josimar e Jalmir e Wesleison. Eu simplesmente não consigo me lembrar dos seus nomes, saber quem é quem e qual a diferença que provavelmente existe entre eles. Mas dirigem caminhões, levantam muros e lavam roupas - aprendi com Ivailson a arte da mistura para o concreto de pisos, feito no olhômetro e, onde o engenheiro hesita, Ivailson concretiza logo. Menciono Gaudi enquanto o concreto se espalha lentamente pelo chão, mas nem Ivailson ou o engenheiro , que se chama Jesuino da Silva, parecem sequer entender o que eu disse. Me olham de outro planeta, esse que fica dentro das sombras de um Brasil; invisíveis os dois sob o manto da invisibilidade desses nomes surreais.
15 outubro 2010
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Guga, tava com tanta saudade de seus textos, aí vc me aparece com este e faz a gente pensar sobre um tanto de coisas como elfos e curupiras, como Wandeir, sua sabedoria e invisibilidade sob o manto desse país tão cheio de sombras. Vc foi e continua sendo uma das minhas razões para que a vida tenha algum sentido. Gaudi que se cuide. Beijão
ResponderExcluirEntrei. Não para comentar qualquer coisa aqui escrita, mas para dizer que o seu texto, de nome ótimo, Voto Fulo, tem sérios problemas de raciocínio. Naõ que eu defenda esta ou aquela coisa, mas como irá votar a elite, na elite, se a elite não ficar em filas esperando a hora, ou julgar que votar é atitude menor? Quem mandou a Dilmalícia para o segundo turno foram os crentes cirstãos, evangélicos (Marina) ou católicos (Serra), e, quem ajuda a manter na poularidade este governo desvairado e sem ética alguma, são tantos os Chico Buarque, como os Zezé di Camargo, como as elites religiosas chamadas "mais intelectualizadas". E, fiquei assim, um tanto pasma, de saber que no primeiro turno você não conseguiu encontrar nem unzinho candidato pra depositar a sua confiança. Ainda bem que as elites intelectuais são a favor do voto... ainda que fulo. Falei-lhe! mesmo que a sua matéria não nos permitisse opinião, fi-lo!
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