Sic

23 outubro 2011

Check this out, Lady Glassworth

  Well, I was driving around when the answer to the question came to me: Why can the common driver turn into an enraged beast when in traffic? Since at home he can hardly say no to his wife, who usually drives a car in a more civilized way, as shown by statistics, but who, in turn, is capable of terrorizing a simple breakfast, with an efficiency coming straight from the Devil’s kitchen.

  Meaning, considering the skill of imitating hellish beasts, the woman still beats men.
But this is another subject. The man, I'm talking about the common man, assuming it exists, is possessed by hellish beasts mainly in traffic, when he drives.

  Why would a peaceful citizen turn into an insane beast at the wheel of a shitty Corsa 1.0?

  The answer has to do with the atavistic memory, even if the guy is a crying emo, a certain Mr. right or an east coast burocrat.

  Imagine that, you’re in Europe, a thousand years ago, I guess, getting ready to play some popular sport of that time:
that thing called jousting, competition among gentlemen.

  You have a solid piece of wood, about 9 feet long.
At the tip, there’s a pointed piece of metal. The thing weighs quite a bit, so much that it comes with a leather shoulder belt, to aide you in maneuvering the spear.

  Maneuvering is a figure of speech.
You can, at the most, point the giant stick against your opponent. Right, you have an opponent with a stick just like yours who will come towards you mounted on a horse.

  You too have a horse, and you are hoisted and placed on top of it.
You need to be hoisted because you can’t mount it on your own, since you are wearing a steel armor that weighs 100 pounds or more. And the horse is a big one, thick shin; a necessarily huge horse, since it has to support your weight, the armor, the shield (you have a huge shield as well) and the weight of the equine armor itself.

  Very well, you are now mounted on the horse.
The saddle has a back, so you won't fall backwards. You need to be very well balanced on that thing, otherwise, if you lean too much towards either side, backwards or towards the front, you won’t be able to regain your original position.
Ok, they lead the horse, with you on top, and put you in a sort of corridor.
On the opposite end of the corridor there is a man wearing an armor, mounting another horse, who, like you, can hardly move.

  Then, someone gives a signal.
You hardly have time to lower the visor on your helmet. Of course, you are wearing a steel helmet and it has a visor, which you lower to protect your eyes. It could be a sort of grail, or two peeping holes on a metal piece. Meaning, you can’t really see much ahead of you. You aim your spear, basing your aim on the original position of your opponent and, meanwhile, the horse has fled along the corridor (this type of horse loves doing that), furiously running towards the other horse, which comes puffing in just about the same furious manner.

  The general idea of the thing is that you intend to unhorse, perforate, smash, brake in half your opponent, purely on impact.
Even though you know that he has the same expectation towards you.

  The both of you advance at about 25 miles per hour, each one, one against the other.
The impact will happen at about 50 miles per hour, for both. Maybe you will remember, at the final seconds before impact, that Lady Glassworth is watching, with those sweet eyes, and that you are carrying your scented handkerchief tied in a delicate bow on you right armored hand.

  You still have time to think, on a last concoction of adrenaline and testosterone that, if you dodge this one, you will have sex with a reluctant Lady Glassworth, whether she wants it or not.
And she’ll see, ah she will, what a real spear looks like.

  An experience like this, I must say, is burned on someone’s brain forever, if you survive.
You may die and, no doubt, you will die someday, but the genes will find a way of passing this experience on to your male offspring. Yours and Lady Glassworth’s. And it will be passed on one generation to the next, not without some fanciful loss in its essence.

  And now you drive a car on the streets of a lowly, unscrupulous town.
 All right, you were home, at ease, dreaming of the naked playboy playgirls, watching the news, a soccer game, having lunch, savoring a nice plate of pasta with a cold beer and such. Then you have to get on your car and leave to go see about a prolem.

  You put a single wheel on the street and a portion of your brain realizes that this fucking automobile is a mortal thing, man.
Because it really is a mortal thing. Shit, there are millions of deaths every year due to traffic accidents all over the world.

  Your brain and your genes, unlike you, are not fooled by the NGOs, with the killjoy gang, by the politically correct and the polished civility of the internet  social networks.

  Therefore:
You are all cool and dany. But, in the street, you're ready to fight. Look it here Lady Glassworth, wait for me ‘cause I’m gonna survive, big mama.

26 novembro 2010

Não gosto de cães

Olhando minha cachorra gorda, de quem eu gosto muito, é que fui perceber que não gosto de cães. 
Estou sendo tão contraditório como um cão, um animal extremamente contraditório. Porque o cachorro doméstico, com essa denominação que nenhum animal que tenha certo brio gostaria de possuir, é o bicho que mais ataca pessoas em todo mundo.
Eles latem na sua orelha, quando você passa por um portão qualquer, andando pela calçada, e o nível de decibéis é alarmante e eu gostaria de portar um lança-chamas, daqueles grandões, da segunda guerra mundial, e incinerar o infeliz.
Porque são bichos infelizes e precisam de cuidado, de carinho, de afeição, de companhia, de passeios. Quem agüenta? E deveriam estar acostumados com todas as pessoas - são pessoas, caramba. Supõe-se que um cão doméstico foi criado por pessoas, desde quando era um bostinha - mas não. Latem e mordem. Você vai fazer uma festinha no animal, um poodle, e a mulher, a dona dele, que anda com ele no colo, avisa: "ãh... ele morde", e complementa, se dirigindo ao cão: "né, fofinho da mamãe?"
Eu realmente não estou preparado psicologicamente para ser ameaçado por um poodle. Nem ser atacado por um pincher que não chega a pesar meio quilo. E, finalmente, eu me recuso a concordar com mulheres que acham um yorkshire, ou qualquer outra minúscula aberração peluda, uma coisa linda.
As "raças" caninas são apenas aberrações genéticas, artificialmente produzidas e se você soltar um desses cãezinhos peludos na floresta, ele vai morrer em poucas horas, levando com ele a triste memória do seu extenso pedigree.
Ok, foram feitos para companhia humana, para deleitar seus donos. Mas como é que um merdinha desses inferniza todos os vizinhos humanos com uma agressividade desproporcional ao seu tamanho ridículo? Eu gostaria de amarrar um desses numa coleira e chutar, perto dele, uma bola contra uma parede, repetidas vezes, só pra ele ver. Só pra ele sentir como a bola bate com força contra a parede e só volta porque é uma bola, não um pedacinho de carne e ossos. Quem sabe, naquele pequeno cérebro, a ficha caía?
Os cachorros grandões são piores, claro. Simplesmente porque são mortais retardados mentais. Mas minha cachorrona gorda, 40 quilos de ternura, está bem aqui no meu pé, enquanto lanço vitupérios contra sua natureza. Abana o rabo toda vez que eu estico o pé em sua direção, pra fazer um carinho nas suas costas. E ronca, a danada. É uma besta adorável.

17 outubro 2010

Óia só, Lady Glassworth

Bem, eu estava dirigindo e me ocorreu a resposta à questão: por que o motorista comum pode virar uma besta enraivecida no trânsito?
Em casa ele mal consegue dizer não pra sua mulher, que costuma dirigir um automóvel de forma mais civilizada, como dizem as estatísticas.
(Mas ela também é capaz de infernizar um simples café da manhã com uma eficiência que vem diretamente da cozinha de Satanás. Ou seja, na capacidade de imitar as bestas infernais a mulher ainda ganha do homem.)
Mas isso é um outro assunto. O homem, estou falando do homem comum, se é que isso existe, é possuído por bestas infernais principalmente no trânsito, quando dirige.
A pergunta é: por que um pacato cidadão se transforma em uma besta-fera ensandecida, ao volante da porcaria do seu Fiat 1.0?
A resposta tem a ver com a memória atávica, mesmo que o cara seja atualmente um modelo de frio discernimento, tipo um burocrata paulista.
Imagine só, você está lá na Europa, mil anos atrás, sei lá, e se prepara para um esporte bem popular na época: aquele negócio da justa, da competição entre cavaleiros.
Você tem um pedaço de pau maciço, uns três metros de comprimento. Na ponta tem um ferro pontudo incrustado. Aquilo pesa bastante, tanto que vem com uma correia pra você dependurar no ombro pra poder, mais ou menos, manejar a lança.
'Manejar' é forma de dizer. Você consegue, no máximo, apontar o espeto gigante contra seu adversário. É isso aí, você tem um adversário com um espeto igual ao seu e que virá pra cima de você montado num cavalo.
Você também tem um cavalo e você é içado e colocado em cima dele. Note bem, você é 'içado' porque não pode montar sozinho, já que está vestindo uma armadura de ferro que pesa por volta de cinquenta quilos ou mais. E o cavalo é daqueles grandões, de canela grossa; um cavalo necessariamente cavalar, já que tem que suportar seu peso, a armadura, o escudo (você também tem um escudo grandão) e o peso da própria armadura equina.
Muito bem, você já está em cima do cavalo. A sela tem um encosto traseiro, pra você não virar pra trás. Você tem que estar muito bem equilibrado naquilo porque senão, se você tombar demais pros lados ou pra trás, você não consegue voltar à posição anterior.
Ok, eles conduzem o cavalo, com você em cima e te colocam numa espécie de corredor. Do outro lado do corredor tem um cara de armadura que também mal consegue se mexer, montado em outro cavalo.
Aí eles dão um sinal. Você mal tem tempo de abaixar a viseira do seu elmo. Claro, você tá usando um elmo de ferro e ele tem uma viseira, que você baixa sobre os olhos. Pode ser uma espécie de grade, podem ser dois furinhos numa peça de metal. Quer dizer, você não está vendo muita coisa na sua frente. Você aponta sua lança, na base do cálculo de onde o adversário estava e, enquanto isso, o cavalo desembestou ao longo do corredor (esse tipo de cavalo adora fazer isso), indo loucamente ao encontro do outro cavalo, que vem bufando da mesma forma desembestada.
A ideia geral da coisa é que você pretende desmontar, perfurar, quebrar, partir ao meio o seu oponente, na base do impacto puro e simples. Mesmo sabendo que ele tem as mesmas perspectivas em relação a você.
Vocês avançam mais ou menos a quarenta quilômetros por hora, cada um, um contra o outro. A porrada vai ser a oitenta por hora, pros dois. Você talvez se lembre, nos segundos finais antes do impacto, que Lady Glassworth está assistindo, com aqueles olhos doces, e você está levando seu lencinho perfumado amarrado com um lacinho delicado na sua manopla direita.
Você ainda pensa, numa última ebulição de adrenalina e testosterona misturadas que, se escapar dessa, vai traçar Lady Glassworth na marra, quer ela queira, quer não.
Uma experiência dessas, devo dizer, fica gravada no cérebro para sempre, se você sobreviver. Você pode morrer. Sem dúvida você morre algum dia mas os genes dão um jeito de transmitir essa experiência pro seu filho. Seu e da Lady Glassworth. E vai passando de geração em geração com alguma perda imagística mas intocada em sua essência.
E agora você dirige um carro nas ruas de uma cidade vagabunda e sem escrúpulos. Tudo bem, você estava em casa, tranquilo, sonhando com as coelhinhas da Playboy, assistindo o noticiário, o futebol. Ou durante o almoço, saboreando um macarrãozinho básico com cerveja e tal e coisa. Aí você tem que pegar o carro e sair pra resolver um pepino qualquer.
Você põe a roda na rua e uma região do seu cérebro percebe que essa porra de automóvel é uma coisa mortal, véio. Porque é uma coisa mortal mesmo. São milhões de mortes por ano em acidentes de trânsito no mundo todo.
Seu cérebro ou seus genes não se enganam como você se engana com as ONGS, com a turma do deixa disso, com o politicamente correto ou com a civilidade envernizada das redes sociais da internet.
Então: você tá todo bonzinho e tal. Mas na rua, dentro do carro, você sai pro pau. Óia só, Lady Glassworth, espere por mim porque eu vou sobreviver, minha princesa.

15 outubro 2010

Wandeir e seus problemas

Penso em Wandeir e seus problemas, a começar pela minha dificuldade em lembrar seu nome. Porque eu preciso dos serviços dele. Estou construindo uma casinha na beira de um lago e Wandeir tem um ferro-velho, um topa-tudo - eu não sei definir a razão comercial da coisa - e Wandeir vende coisas que eu preciso.

Coisas usadas, vigas usadas de madeira e mesinhas de ferro usadas, tambores de plástico e grades de portão. Coisas pelas quais eu pagaria uma pequena fortuna nas boas casas do ramo e nas quais eu seria tratado como uma rameira velha na hora de pechinchar. Pago algo em torno de 40 reais por uma viga de madeira de 5 metros de comprimento e que pesa 150 quilos, no mínimo. Um pedaço de peroba pura, sei lá, escurecida pelo tempo e pela indiferença humana (não resisti à frase de efeito, sorry).

Essas árvores quase não existem mais e na Europa você pagaria uns 1000 euros por um pedaço de paraju muito menor. Essas madeiras estão em extinção e eu não me importo nem um pouco em ter um exemplar sustentando a quina do telhado da minha modesta varanda, perto de um lago muito calmo. O espírito da árvore original talvez se sinta mais confortável na minha varandinha que dá para uma mata, que não é nenhuma amazônia, mas é mato e tem lá seus curupiras e, quem sabe, seus elfos imigrantes.

Mas Wandeir é um problema brasileiro sem solução para mim. Wandeir, Wantuir, Josilene, Joiciene e Joiciane, Edirley e Edirlene, e Josimar e Jalmir e Wesleison. Eu simplesmente não consigo me lembrar dos seus nomes, saber quem é quem e qual a diferença que provavelmente existe entre eles. Mas dirigem caminhões, levantam muros e lavam roupas - aprendi com Ivailson a arte da mistura para o concreto de pisos, feito no olhômetro e, onde o engenheiro hesita, Ivailson concretiza logo. Menciono Gaudi enquanto o concreto se espalha lentamente pelo chão, mas nem Ivailson ou o engenheiro , que se chama Jesuino da Silva, parecem sequer entender o que eu disse. Me olham de outro planeta, esse que fica dentro das sombras de um Brasil; invisíveis os dois sob o manto da invisibilidade desses nomes surreais.

28 outubro 2009

Rebatendo (só um pouco) Vargas Llosa

On line, na revista Piauí, um belo e longo texto de Vargas Llosa em defesa da literatura dá o que pensar. Mas pensar sobre literatura é uma faca de vários legumes. Milhares de escritores, mesmo os considerados grandes escritores, fazem da literatura uma atividade simplesmente sombria. Não tenho mais a convicção de que a literatura seja a luz no fim do túnel, o túnel escuro da estupidez humana (sic). Nem que espalhe sequer algumas lâmpadas, mesmo que sejam essas lampadinhas vagabundas de natal, piscando com seus 25 watts de euforia natalina pelas paredes desse mesmo túnel. Em suma, não acredito mais que a literatura ilumine os desprovidos de luz ou de lanternas.

Frente ao irrefutável argumento de Vargas Llosa de que a literatura promove, protege e dinamiza a linguagem humana posso contrapor, como um advogado do diabo, o fato de que a literatura também é a indústria metafísica da angústia. A maioria dos autores citados carinhosa e saudosamente por Llosa - grandes autores de quem, aparentemente, é preciso ter saudades - são exímios tecelões de uma rede de nós cegos, iguais entre si pela qualidade comum de provocar angústia.

Não sentir essa angústia e continuar pulando alegremente de um inferno pro outro é algo que me faz duvidar da capacidade cognitiva de qualquer leitor - o que, por si só, contradiz a tese de que o exercício da leitura amplia a percepção geral do homem. A noção do abismo deveria ser natural mas uma enorme parte da literatura fomenta o salto suicida, sem para quedas. Por outro lado, perceber a angústia e gostar dela a ponto de usá-la como travesseiro é um negócio bizarro demais, pra não dizer doentio.

"O diabo na rua (leia-se: no mundo), no meio do redimunho (leia-se: literatura)", está rindo discretamente.

22 outubro 2009

Velhas senhoras

Tempo de esquecer as velhas. Também já era tempo. Elas estão no mesmo lugar de sempre e acenam para mim com os braços magros. Alguns gordos.Essas velhas cairão no olvido, palavra irônica para quem não quer mais escutar seus sussurros. São as esperanças, as promessas, algumas amizades, muitas lembranças. É tempo de esquecer essas velhas senhoras tristes.